Em entrevista ao Diário Económico, o presidente do Benfica e o administrador da SAD para a área financeira Domingos Soares Oliveira falam sobre o treinador, a venda de jogadores e as acções em bolsa.
O Benfica ultrapassou a meta dos 200 mil sócios. Qual é agora o objectivo e em quanto tempo pretendem alcançá-lo?Luís Filipe Vieira: A estratégia utilizada, desde que chegámos a esta casa, está focada nos sócios do Sport Lisboa e Benfica. Pensamos que iremos conseguir cumprir o novo objectivo que é atingir os 300 mil sócios.
Tem algum objectivo definido em termos de ‘timing' para atingir os 300 mil sócios?LFV: Não tenho uma meta temporal, apenas o objectivo final. Confesso que tinha uma determinada expectativa que não foi cumprida. Gostaria de estar já a celebrar os 300 mil, mas fui demasiado ambicioso. Agora, alcançámos os 200 mil sócios, o que não deixa de ser notável. Não em seis ou sete meses. Sinceramente não sei em quanto tempo, mas da forma como a equipa se está a aproximar dos sócios chegaremos lá em breve.
Destes 200 mil sócios, quantos são pagantes?LFV: Mais de 60% têm débito directo. E fomos o último clube a fazer uma remuneração de todo o universo de sócios. Foi em 2005. Isso significa que todos aqueles que já não reuniam as condições foram "limpos" da base de dados.
Como estão as negociações para o ‘naming' do estádio?Domingos Soares de Oliveira: Continuamos em negociações. Ainda não está fechado o processo. Este é talvez o projecto mais difícil em termos de venda.
Difícil porquê?DSO: Difícil porque é um valor elevado, embora não seja mais caro do que as camisolas. Enquanto o patrocinador das camisolas tem uma visibilidade diária, o patrocinador do estádio não tem essa mesma visibilidade. Continuamos com propostas activas e acreditamos que, a curto/médio prazo, vai ser possível fechar esse patrocínio.
E estamos a falar de empresas nacionais que já apresentaram propostas?DSO: Estamos mais a falar de empresas internacionais, do que nacionais. Sim, já apresentaram propostas. Para uma empresa internacional, a sua associação ao Benfica é muito forte. O melhor exemplo é o caso da Repsol. A frota de clientes/sócios do Benfica é hoje o primeiro, ou o segundo, melhor cliente da Repsol.
E quais são as grandes prioridades para este mandato?LFV: A herança que recebemos foi muito pesada. Ainda hoje temos de responder por erros e irresponsabilidades de um determinado período da nossa história. Durante a campanha eleitoral, assumi que a prioridade seria a vertente desportiva. Queremos deixar o museu concluído e fazer a revisão de estatutos.
A casa está arrumada?LFV: Sim, a casa hoje já está arrumada. O que nos tem faltado são os resultados desportivos, sobretudo porque tínhamos outras prioridades.
Está de tal forma apetecível, que receia uma nova Oferta Pública de Aquisição?LFV: Não, não receio. O maior accionista da SAD Benfiquista vai ser sempre o clube. Esse perigo não existe.
Noutras SAD, o presidente é bem remunerado. No Benfica, o presidente não é pago. Qual é a lógica?DSO: Nenhum dos Órgãos Sociais eleitos pelos sócios é remunerado. É a lógica de quem serve o Benfica, serve com espírito de missão e não de qualquer remuneração. E não creio que haja intenção de alterar essa situação.
As goleadas já estão a reflectir-se nas receitas de bilheteira?LFV: As receitas de bilheteira são compostas por duas vertentes. Aquilo que são as receitas dos bilhetes de época, cativos e camarotes cresceu face aos últimos anos. E depois temos uma segunda vertente de jogo a jogo que, tipicamente, é mais comprado por adepto do que por sócio. Nesta vertente, estamos com o triplo da facturação, em relação ao ano passado. No campeonato nacional e nas competições europeias estamos com o volume de receitas 30% acima do valor do ano passado.
Os resultados de amanhã vão ser elucidativos da ausência de venda de jogadores?LFV: Os resultados vão reflectir a estratégia. Para além disso, se uma liga dos Campeões vale cerca de 15 milhões de euros... é uma questão de fazer contas. Mas repito, sabemos exactamente o terreno que estamos a pisar. A conta de resultados será influenciada de forma significativa mas, do ponto de vista financeiro, temos a capacidade para aguentar esse impacto de não vender jogadores. Toda a gente reconhece que os activos, os jogadores, valem muitíssimo mais hoje do que valiam há um ano atrás.
Durante dois anos?LFV: Durante dois, se for necessário. Se isso é algo que queremos manter ‘ad eternum', depende também do que queremos fazer em termos de investimento. Hoje temos o melhor plantel dos últimos anos.
Quando vão dar lucros?DSO: Evidentemente que não vamos dar prejuízos ‘ad eternum'. Acreditamos que conseguiremos voltar aos lucros e ter os capitais recompostos no espaço de três ou quatro anos.
Quando conseguirão ter os capitais próprios repostos?LFV: A meta definida é o ano de 2013. E este projecto desportivo tem de ser sustentado ao longo dos próximos três a quatro anos. Se conseguirmos renegociar os contratos, colocamos o Benfica num patamar completamente diferente.
A crise financeira também teve impacto no Benfica?LFV: Teve impacto no Benfica, como em todo o lado. Mas apesar de tudo não nos podemos queixar muito. Como em qualquer outra empresa, tivemos maior dificuldade de acesso ao crédito. Posteriormente, reflectiu-se também no aumento dos ‘spreads'. Já do ponto de vista de receitas, não sentimos impacto. Assinámos contratos, que melhoraram os valores que vinham do passado. O potencial de valorização da marca Benfica foi positivo.